ATA DA SEXAGÉSIMA QUARTA SESSÃO ORDINÁRIA DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 21.06.1988.

 

 

Aos vinte e um dias do mês de junho do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Sexagésima Quarta Sessão Ordinária da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura. Às quatorze horas e nove minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Sexagésima Terceira Sessão Ordinária, que foi aprovada. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Frederico Barbosa, 08 Pedidos de Providências, solicitando troca de lâmpadas na Rua Emílio Meyer, em frente aos nos 451 e 559, em vários pontos da Av. Icaraí, na Rua Dr. Mário Totta, em frente ao n° 589, em vários pontos da Av. Coronel Marcos, em vários pontos da Av. Wenceslau Escobar, na Rua Pe. Landell de Moura, em frente ao n° 550, na Rua Nossa Senhora Aparecida, em frente ao n° 349, solicitando placa de sinalização na Av. Érico Veríssimo, sentido Centro-bairro, e na Rua Visconde de Herval, nas adjacências da Escola Estadual William Richard Schisler, alertando os motoristas para a existência da escola e travessia de crianças, exigindo que reduzam a velocidade e redobrem a atenção naquela área; pelo Ver. Hermes Dutra, 01 Pedido de Providências, solicitando reposição de lâmpada, a mercúrio, na Rua Felicíssimo de Azevedo, esquina Cristóvão Colombo e Rua Carlos Von Koseritz, também esquina Cristóvão Colombo; pelo Ver. Marcinho Medeiros, 01 Emenda ao Projeto de Lei do Legislativo n° 41/88 (proc. n° 793/88), que acrescenta parágrafo único ao art. 73 da Lei n° 5732, de 31 de dezembro de 1985; pelo Ver. Nilton Comin, 01 Projeto de Lei do Legislativo n° 98/88 (proc. n° 1243/88), que declara de utilidade pública a Sociedade Legião Espírita. Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios nos 195/88, do Sr. Carlos Biederman, Presidente do Instituto de Estudos Empresariais; 202/88, do Sr. Carlos Smith, Conselheiro do Instituto de Estudos Empresariais; s/n°, da Associação Brasileira de Servidores de Câmaras Municipais; Ofícios-Circulares nos 341/88, da Câmara Municipal de João Pessoa; 2831/88, da Câmara Municipal de São João da Boa Vista. Em COMUNICAÇÕES, o Ver. Hermes Dutra discorreu sobre o lançamento, pela Fundação Maurício Sirotski Sobrinho, da campanha “Paternidade Consciente”, analisando os aspectos sociais, econômicos e políticos envolvidos no assunto. Comentou folheto distribuído por essa Fundação, de informações acerca dos métodos anticoncepcionais atualmente utilizados no País, suas vantagens e desvantagens, parabenizando-se com os responsáveis pela edição do mesmo. O Ver. Caio Lustosa discorreu acerca de problemas que vêm surgindo em vários conjuntos habitacionais da região metropolitana, ocupados ano passado por grupos carentes da população, em face de avisos de despejo que esses ocupantes vêm recebendo. Falou sobre o relatório da Comissão Especial formada pelos Governos Estadual e Municipal para tratar da questão, pelo qual se verificou que grande parte das famílias ocupantes estão em condições de adquirir os imóveis nos quais atualmente residem e foi atestado a péssima qualidade de vários desses imóveis. Analisou a luta que está sendo empreendida na busca de acordos que consigam solucionar esse problema. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, a Verª. Ana Godoy reportou-se ao pronunciamento, de ontem, do Ver. Brochado da Rocha, sobre a falta de segurança observada em Porto Alegre, discorrendo sobre as causas dessa situação e destacando, em especial, o grave problema habitacional enfrentado pelo trabalhador brasileiro. Ainda em COMUNICAÇÕES, o Ver. Frederico Barbosa teceu comentários acerca de questionamentos que vêm recebendo sobre sua permanência ou não no PFL, dizendo não ter qualquer intenção de sair de seu Partido e que espera concorrer, nas próximas eleições municipais, dentro da sigla partidária que hoje defende. A Verª. Teresinha Irigaray analisou a luta da mulher brasileira em busca de seu verdadeiro espaço dentro da sociedade atual. Dizendo falar em seu nome pessoal, lançou a candidatura da Socióloga Lícia Peres para a Vice-Prefeitura de Porto Alegre nas próximas eleições, comentando o trabalho de S.Sa. em prol da Cidade. O Ver. Adão Eliseu reportou-se ao pronunciamento, de hoje, da Verª. Teresinha Irigaray, em que é lançada a candidatura da Srª. Lícia Peres para a Vice-Prefeitura Municipal, declarando que S. Sa. possui uma tradição de luta contra a ditadura e de busca de um país progressista e realmente democrático. Disse que a candidatura da Srª. Lícia Peres, caso se concretize, será um reforço muito importante para seu Partido. O Ver. Flávio Coulon comentou o número excessivo de táxis encontrados na Estação Rodoviária da Cidade, o que está acarretando transtornos para a população. Falou de solicitação dos moradores do Bairro Teresópolis, de um ônibus que saia da Praça Guia Lopes até o Centro. Também atentou para a necessidade da realização, pelo DMLU, de limpeza na Rua Pe. Chagas, ao lado do n° 171 e na Rua Olavo Barreto Viana, ao lado do n° 32. Solicitou o resultado de sindicância realizada pelo Departamento de Iluminação, quanto ao desaparecimento de lâmpadas e outros equipamentos desse Departamento. Cumprimentou o Secretário Políbio Braga, pelo fechamento de lojas clandestinas de compra de ouro velho e analisou os fortes contrastes encontrados no País, onde convivem a miséria e a opulência excessiva. Ainda em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Flávio Coulon falou sobre a forma como são repassados, pelo Estado ao Município, os valores do ICM, comentando liminares que vêm sendo buscadas pelo Governo Municipal com vistas a alterações nessa área. Denunciou que a previsão orçamentária para este ano feita pela Secretaria Municipal da Fazenda, com relação ao ICM, foi em um valor muito abaixo da previsão do Estado para o assunto. O Ver. Elói Guimarães reportou-se ao pronunciamento, de hoje, do Ver. Flávio Coulon, acerca de diversos problemas encontrados em Porto Alegre, comentando declarações do Ministro Maílson da Nóbrega de que a economia nacional se desorganizará caso ocorra uma anistia da correção monetária para os pequenos empresários e agricultores. Disse que a economia do nosso País já se encontra desorganizada, analisando a questão. Destacou que o Município não está recebendo os devidos recursos dos Governos Estadual e Federal. A seguir, o Sr. Presidente apregoou Emenda da Verª. Teresinha Irigaray ao Projeto de Lei do Executivo n° 28/88 e registrou as presenças, no Plenário, do Sr. Vito Rosales. Diretor do DMLU e do Dep. Carlos Araújo. Ainda em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, a Verª. Bernadete Vidal criticou a falta de fiscalização observada em Porto Alegre, registrando caso ocorrido esta manhã, quando uma lotação escolar era dirigida de forma perigosa nas ruas da Cidade, colocando em risco a vida das crianças que conduzia. Comentou vários problemas decorrentes da falta de fiscalização, solicitando providências urgentes e concretas para o assunto. E o Ver. Hermes Dutra falou sobre reunião ocorrida na Vila Restinga, no último sábado, com vistas a debater a questão dos excessos de água cobrados daquela comunidade. Comentou Projeto de sua autoria, em tramitação na Casa, que busca a alteração da fórmula tarifária atualmente vigente no DMAE. Às dezesseis horas e dez minutos, nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente levantou os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a ser realizada às dezessete horas, para entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Sheun Ming Ling. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Frederico Barbosa, Rafael Santos e Nilton Comin, o último nos termos do art. 11, § 3° do Regimento Interno e secretariados pelos Vereadores Gladis Mantelli e Rafael Santos. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 

O SR. PRESIDENTE (Frederico Barbosa): Passamos ao período de

 

COMUNICAÇÕES

 

Com a palavra, o Ver. Hermes Dutra.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Ontem, à noitinha, tive oportunidade de assistir ao lançamento de uma campanha chamada “Paternidade Consciente” feita pela Fundação Maurício Sobrinho.

Eu quero me reportar ao assunto porque, parece, que estamos felizmente caminhando para colocar alguns instrumentos, a meu juízo, essenciais para a população pobre do País. A classe média, a família classe média, não possui mais do que 2 ou 3 filhos, porque a mulher toma pílula, porque a mulher usa “DIU”, porque a mulher faz ligadura de trompa, porque o marido faz vasectomia, enfim, utilizam métodos que impedem a concepção, basicamente, por um motivo, porque sabem que tais métodos vão impedir à concepção sem que percam o prazer do ato sexual.

Lamentavelmente, no Brasil, por uma questão de mentalidade retrógrada, e aí incluo até alguns setores da minha igreja, da igreja que faço parte, porque sou praticante da Igreja Católica, a questão da paternidade responsável, do planejamento familiar, que por alguns segmentos políticos nacionais também é visto de forma distorcida, fazendo com que até hoje ninguém iniciasse uma campanha efetiva de esclarecimento para a população de baixa renda.

Por isso, quando vi esta iniciativa da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho achei-a meritória, merecedora de aplausos porque tem um único objetivo: informar. Foi distribuído, na oportunidade, um pequeno livreto que foi impresso em volume apreciável e que será distribuído nas zonas pobres do Rio Grande do Sul, pura e simplesmente mostrando quais os métodos de anticoncepção que existem, com suas vantagens e suas desvantagens, dizendo, por exemplo as vantagens do diafragma, que não interfere com o ciclo menstrual, não causa danos à saúde, desvantagem de poder interferir na espontaneidade sexual; vantagens e desvantagens da pílula, não exige que se evite a relação sexual em nenhum dia do mês, reduz a ocorrência de problemas menstruais, como cólicas, por exemplo, desvantagens de ser um produto químico e interferir com as reações do organismo, etc, etc. Fala em espermicidas, fala do método natural, fala, inclusive, em todos os métodos, que se pode fazer o ato sexual, sem que haja a concepção. Um folheto com este tipo de explicação, que deveria ser tarefa do Governo, de distribuir em todas as camadas da população, notadamente, a camada pobre, que não tem acesso à educação, e gera filhos que, na maioria das vezes, não quer, quando não, partindo para a prática do aborto, criminosa duplamente. Criminosa, porque se mata uma vida inocente, que não tem culpa nenhuma. E olhem que tem gente no País que não aceita a pena de morte para criminoso, imagine-se a pena de morte para um ser completamente inocente! Criminoso, pela segunda vez, contra o corpo da mulher, porque o aborto é um ato antinatural. Se houvesse uma educação e acesso a estes meios, não tenho dúvida, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que o número de abortos no País cairia a níveis ínfimos. E, sobretudo, o índice de natalidade seria aquele que os pais desejam, seja um, dois, três, dez filhos, mas será aquele que os pais desejam, e não o filho indesejado que vem fruto de um ato de amor, mas do qual não se espera que haja concepção. E como diz o “slogan” da campanha: “Filho desejado nunca será filho rejeitado”. Ao contrário do que nós vemos e assistimos hoje pelo País afora, em que crianças são colocadas ao mundo, como uma fábrica sem controle de qualidade. São largadas, ao beleléu, em que a mãe, o pai, por falta de acesso a educação, não sabem que não retirarão o prazer, mas não permitirão a concepção.

Por isso, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, quero, aqui, parabenizar a Fundação e dizer mais ainda, que vou me integrar nesta campanha, vou ajudar a distribuir esses folhetos. E espero que o governo, como um ser que deve fazer essas coisas, de uma vez por todas assuma o papel que lhe cabe, e trate de fazer trabalhos do tipo desse aqui (mostra o folheto), que não constrange ninguém, não tira a liberdade de ninguém. Ao contrário, educa, busca dar informações e, sobretudo, proporciona ao pobre, ao miserável, aquilo que ele vê com inveja nas classes mais favorecidas: que é o de não precisar, a cada ano, carregar, um filho no colo, simplesmente porque quer fazer uma junção carnal.

 

A Sra. Teresinha Irigaray: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Ver. Hermes Dutra, acho, até um certo ponto, meritória a campanha e, realmente, deve ser elogiada por todos nós.

A paternidade consciente, concordo com V. Exa., não se reduz apenas a um ato de amor, eu acho que deve haver consciência do que estão fazendo, que podem gerar uma criança e essa criança terá, futuramente, dificuldades de sobrevivência. Mas eu só discordo de V. Exa. de um ponto, e isso é questão de posicionamento pessoal, político e social. V. Exa. confessa que o aborto é um ato criminoso e acho que deveria ser despenalizado do Código Penal, Vereador, porque eu acho que toda mulher é dona do seu corpo. Eu acho que as clínicas clandestinas que atendem grande parcela de classe alta e classe média, estas, então, deveriam ser fechadas, porque não oportunizam à mulher pobre, à operária que, seguramente, não deseja aquele filho, porque será um empecilho na sua vida, e correrá o risco de perder o emprego, não pode impedi-la se ela não quiser vir a ter esta gravidez. Então, eu acho que é uma tese polêmica, uma tese discutível, acho que o aborto poderia ser regulamentado, Ver. Hermes Dutra, para não ter este cunho de criminalidade. Acho que a mulher poderia dispor do seu corpo livremente, poderia procurar postos de saúde. Poderia, também, fazer o aborto, por que não? Regulamentado pelo Governo, se ela não quiser esta gravidez, porque, muitas vezes, e a grande maioria das vezes, uma mulher que tem 5 ou 6 filhos e que fique grávida novamente, com o Planoteste ela é despedida sumariamente da sua empresa, é despedida sumariamente do seu emprego. Não entro no mérito do seu posicionamento em relação ao aborto, apenas é uma questão social, tanto para umas e muito pouco para a grande maioria da população. As clínicas clandestinas funcionam para quem pode pagar. O aborto é praticado livremente e impunemente neste País, agora, ele é considerado criminoso, apenas, quando ele é praticado por uma operária, quando é praticado por uma mulher de nível baixo, ou quando esta mulher é despedida do emprego, porque, exatamente, quis conservá-lo e apresentou o Planoteste dizendo que estava grávida. Neste ponto, eu até concordo com V. Exa. e acho que a Fundação Maurício Sirotsky, ao inaugurar esta Campanha, ela está esclarecendo a população, ela está conscientizando a população, o que já é meio caminho andado.

 

O SR. HERMES DUTRA: Vera. Teresinha, veja V. Exa. que eu citei o aborto “em passant” e quase se tornou o fulcro do aparte de V. Exa., quando eu falava, na verdade, em paternidade responsável. Agora, já que V. Exa. tocou no assunto, eu quero fazer um repto e dizer que, efetivamente, V. Exa. tem razão, a mulher é dona do seu corpo para fazer o que quiser. Inclusive, se quiser plantar bananeira, pode fazê-lo, mas não tem o direito de escorraçar pelo meio das pernas um ser vivo. Não dou este direito a mulher, Vereadora.

 

A Sra. Teresinha Irigaray: Vereador, não foi isso que eu disse. V. Exa. está sendo muito radical no seu posicionamento.

 

O SR. HERMES DUTRA: Eu já ouvi o aparte de V. Exa. até o inseri no meu discurso. Eu só queria encerrar, porque a Mesa, e com razão, insistentemente toca a campainha.

O motivo da minha vinda à tribuna é efetivamente a questão da paternidade responsável, isto é, é o pobre ter acesso à educação, a saber que tem meios para evitar a concepção. E isto, Sr. Presidente, eu reclamo que o Governo não faz. E quando uma entidade particular faz e eu acho que não deveria fazer, pois quem deve fazer isto é o Governo eu tenho de vir à tribuna, por uma questão de consciência, e elogiar o trabalho e dizer que vou-me engajar, vou distribuir um livrinho, na periferia da Cidade, que traz as vantagens e desvantagens de todos os meios contraconceptivos, sejam eles naturais ou artificiais. Eu acho que isto é que tem que ser dado ao ser humano. Mas não se pode exigir de uma mulher de vila que não engravide, se ela sequer sabe que, praticando o ato sexual desta ou daquela maneira ou tomando este ou aquele remédio, pode não engravidar.

Eu acho que, primeiro, tem que ser dito a ela que isto existe e que ela pode acessar a esse meio. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Caio Lustosa, por cedência de tempo da Verª Gladis Mantelli.

 

O SR. CAIO LUSTOSA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, há pouco mais de um ano, a Cidade e a Região Metropolitana assistiram ao fenômeno das ocupações dos conjuntos habitacionais Leopoldina I e II, Parque dos Maias, Jardim Salomé, uma dezena de conjuntos. São para mais de 10 mil – creio que 12 a 13 mil – unidades habitacionais, que foram ocupadas num processo que logo vimos a saber, é decorrente da pauperização dos setores médios da população da Região Metropolitana. Houve medidas repressivas, tentando desalojar à força, e resolver com a polícia um problema eminentemente social. Com a intermediação da Assembléia Legislativa, de entidades comunitárias e deste próprio Legislativo, que constituiu uma Comissão Externa para tratar do problema e que, para honra nossa, estamos presidindo, a partir daí se fizeram inúmeras gestões junto aos Prefeitos Municipais, inclusive o de Porto Alegre, ao Governador do Estado e à Secretaria do Trabalho e Ação Social do Estado. Em agosto, foi formada uma Comissão de alto nível, integrada pelo Secretário do Trabalho, Sartori, pelo Gerente-Geral da Caixa Econômica Federal, que é uma das credoras das massas falidas, das empresas que construíram – e mal construíram – aqueles conjuntos, pelo Prefeito Alceu Collares, por representações inclusive dos agentes financeiros, a Assembléia Legislativa, Metroplan, com o Ver. André Forster e a Fracab, representada pela Dra. Liris Marques. Passado um ano, um pouco antes disto, após um levantamento sócio-econômico muito bem conduzido pela Secretaria de Trabalho do Estado e pela Metroplan, as conclusões deste levantamento, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, em síntese, se resumem nisto: que 99,4% das rendas das famílias ocupantes destes conjuntos permitem que elas adquiram os conjuntos ocupados. Cerca apenas de 0,96% não têm condições de adquirir estes conjuntos, por insuficiência da renda familiar. Seria necessário adequar alguns casos específicos, mas a grande massa destes ocupantes tem condições de adquirir estes imóveis. Foi feita também uma avaliação destes imóveis, que demonstrou, mais uma vez, a péssima qualidade de construção destes conjuntos, a começar pela infra-estrutura, pelo material utilizado, de terceira ou quarta categoria. E um ano se passou. A Caixa Econômica Federal, como Síndica das massas falidas das empresas que operavam com estas construções, entabulou uma série de medidas tentando viabilizar um contrato preliminar de locação com opção de compra para o futuro, para esses que hoje somam, como disse, 10 mil, se não, 15 mil unidades habitacionais. Eis que, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, há cerca de uma semana, quando a Caixa se aprestava para publicar edital, abrindo a possibilidade de formular esses contratos de locação com opção de compra, a Habitasul, de triste memória, e de atuação ruinosa no mercado financeiro deste Estado e deste País, está reabilitada, Ver. Aranha Filho, num legítimo direito, ao qual não contesto, ingressou com uma ação, com um Mandado de Segurança, perante o Tribunal de Justiça, tentando sustar este processo de locação, com opção de compra. E mais, começou a pressionar seriamente a CEF para que o processo de falência fosse agilizado, e, em suma, ficasse inviabilizada a gestão no sentido de se chegar a uma possibilidade de compra, eis que, como afirmei, 99,04% dos ocupantes tem possibilidade de fazê-lo, E, com a insistência da Habitasul, e de outros credores dessas massas falidas, se não dos próprios falidos, a Justiça Estadual, através de uma das Varas da 1ª Instância, começou a expedir mandados de despejo. Vejam V. Exas. a gravidade do problema que estamos a enfrentar. Desses 10 ou 12 mil apartamentos ou unidades habitacionais. E ontem, então, junto com os Deputados da Assembléia Legislativa, com representantes destas comunidades do Parque dos Maias, Jardim Leopoldina, mais precisamente, conseguimos que a Caixa entrasse em Juízo, mais uma vez, pedindo a sustação de instância por mais dez dias para as medidas de força, de despejo, “manu militari”, destes milhares ocupantes dos conjuntos da região metropolitana não fossem despejados à força. Temos em nosso poder todo este relatório fruto do trabalho da Comissão Especial designada pelo Governo do Estado e pelo Prefeito Municipal Alceu Collares, em que, no entanto, notamos uma certa incongruência, pois ao mesmo tempo em que mostra que é possível estes ocupantes adquirirem os imóveis, inclusive nos termos da tabela price, coloca uma conclusão pouco alvissareira e desejável, qual seja, que a venda, se realizada pelos preços aqui preconizados, não atenderia nem aos interesses das empresas proprietárias falidas ou não, nem dos agentes financeiros, eis que o produto obtido não seria suficiente à cobertura do déficit hipotecário corrigido segundo as normas do Sistema Financeiro da Habitação. Ora, Sr. Presidente, semelhante conclusão conflita com os próprios termos do laudo de avaliação expedido pela Metroplan e que mostra que, muito ao contrário, é perfeitamente possível, dentro da renda familiar destes ocupantes, num montante de 99,04% deles a aquisição destes imóveis. Eu queria só um minuto mais de tolerância de V. Exa. em virtude da gravidade deste problema, Sr. Presidente. Veio a esta Capital o Diretor da Carteira Imobiliária da Caixa Federal, Sr. Flávio Peixoto, no ano passado, e o certo é que até agora não houve a viabilização de um acordo que todos querem, todos os ocupantes querem, mas que está sendo inviabilizado, quer-nos parecer, pelos interesses das empresas falidas e de certos credores. Vejam V. Exas. que enquanto a Metroplan, a Secretaria de Trabalho e Habitação Social avaliam o m² em torno de dez mil cruzados e isso a preço de novembro de 87, há credores pretendendo que o valor seja da ordem de trinta a trinta e cinco mil cruzados o m²; não obstante as péssimas condições de construção deste conjunto.

 

O Sr. Raul Casa: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vereador, essas casas não são avaliadas, não há um preço pré-fixado e que esteja dentro das condições daqueles que pretendem adquirir essas casas?

 

O SR. CAIO LUSTOSA: Ver. Raul Casa, esses imóveis estiveram por mais de cinco anos completamente abandonados; muitos estão inconclusos, têm verdadeiras carcaças até sem reboque, sem a mínima infra-estrutura, sem aparelho sanitário, sem aberturas e tudo o mais. De modo que a depreciação existe e isto tudo foi considerado na avaliação da Metroplan; agora, não é considerado pelas empresas falidas, entre as quais, a famosa construtora Guerino, também de triste memória.

 

A Sra. Ana Godoy: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Falando sobre o valor dos imóveis, em que estado estavam quando foram ocupados, de deterioração e tudo o mais? E as carcaças? Eu queria registrar que, hoje, aqueles imóveis já estão supervalorizados porque os ocupantes terminaram de construir o que estava inacabado, valorizaram a área, fizeram infra-estrutura, enfim, deram um valor bem maior, talvez o valor que eles queiram cobrar como se fosse deles toda essa obra.

 

O SR. CAIO LUSTOSA: Concluindo, Sr. Presidente, agradecendo a tolerância da Mesa, eu quero dizer que, ontem, durante todo o dia, tentamos uma audiência para reabrirmos as conversações com os agentes financeiros da Caixa Econômica Estadual, Governo do Estado e Governo Municipal; até esta hora ainda não conseguimos uma audiência com o Sr. Governador do Estado que está envolvido com outros problemas, outros compromissos antes assumidos. Mas queremos deixar, daqui, um apelo a todas as lideranças – e vejam que a ele se associa o Ver. Lauro Hagemann, representante do PCB nesta Casa e, tenho a certeza de que todas as lideranças vão fazê-lo no sentido de pressionar-se o Governo do Estado e o Governo Municipal para que se reabram as negociações para, em primeiro lugar, sensibilizar os credores e as massas falidas a que estas tratativas para aquisição dos conjuntos das unidades por parte dos ocupantes, cheguem a bom termo e, em caso contrário, que o Governo do Estado tenha a vontade e a ação política no sentido de decretar a utilidade pública destes conjuntos. Isso é o que também pode fazer o Governo Municipal em relação aos conjuntos dos limites de Porto Alegre, para que só assim se evite um grave distúrbio, eis que os ocupantes destes conjuntos não estão, em absoluto, dispostos a abdicar daquilo que, indiscutivelmente, é uma conquista sua e é um passo para resolver, ao menos em parte, o problema da habitação em Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, a Vera. Ana Godoy em Comunicação de Líder.

 

A SRA. ANA GODOY: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Falávamos, ontem, nesta Casa, no tempo de Presidência do Sr. Brochado da Rocha, em segurança. Falava-se sobre o total abandono em que vive a população de Porto Alegre. Realmente, é uma grande insegurança, e eu olho todos esses que fizeram ocupações, e o Ver. Caio Lustosa falava ainda há pouco, o total clima de insegurança que sentem, neste momento de desespero – já foi um momento de desespero, desde o dia 11 de abril, quando se deu a primeira ocupação, 11 de abril de 87. Daí para cá, muitas ocupações ocorreram. E por que aconteceu isto? Devido à insegurança, à falta de condições de segurança de morar, porque o trabalhador se mata trabalhando e, para obter um local para morar, tem que pagar o que ele não tem condições, então, a moradia, que é um direito de todos os animais – até as serpentes têm as suas tocas para morar e o ser humano não tem o direito de morar. Isto é um absurdo. Vimos, neste momento, que temos um governo que até bem pouco tempo o governo do Estado fazia um discurso de oposição, PMDB; temos um Prefeito que se diz socialista, do PDT, que podiam ter tomado as providências necessárias de um ano atrás para resolver o problema de habitação e mudar a política habitacional, e não foi feito nada por parte destes Executivos. Não foi feito absolutamente nada. Vai mais de um ano que começaram estas desesperadas ocupações e não foi feito nada. E se fala, nos jornais, que todos visam o bem comum. Visam o bem social. Aí se pergunta: o bem social representa o quê? Representa o quê? É o Brasil? É o Rio Grande do Sul? É Porto Alegre? Quem é? São as pessoas? Eu olho cada brasileiro como um pedacinho do Brasil. Cada ser, cada trabalhador, como já falei, é importante. A nossa tribuna foi construída pelas mãos de trabalhadores que não tem onde morar, embora a gente dependa, sempre, em cada minuto da nossa vida, das mãos de um trabalhador, são negados os seus direitos. O trabalhador nunca tem vez; nunca tem direito. Mas olha que os trabalhadores estão bem cientes. E eu vejo nestas ocupações o pedido de sempre: queremos municipalização. Parece que o Sr. Prefeito de Porto Alegre deu entrevista para a “Zero Hora” de ontem, dizendo que a Prefeitura não tem recursos financeiros para fazer a municipalização e eu até compreendo. O Prefeito faz pouco tempo que foi eleito. Estávamos, até então, num regime de recessão, e o Prefeito talvez não tenha experiência e não saiba que para fazer a municipalização existem duas partes. A primeira etapa é decretar de utilidade pública; não gasta nem um tostão, Srs. Vereadores. Tem um prazo determinado para analisar o valor da área. Depois, então, é que se vai chegar à desapropriação. Aí, então, é que é necessário o dinheiro. Precisa-se cerca de 5 anos, até lá a Prefeitura vai ser do PT, eu creio. Creio que o PT até vai estar no poder. E fica o recado desta tribuna. Se o Prefeito tem receio, pode assumir isso, que nós, os trabalhadores, assumimos pagar os imóveis. Foi dito, de acordo com o relato do Ver. Caio Lustosa, que 99,04% têm condições de pagar os seus imóveis. A diferença é muito pequena, que o governo municipal pode resolver através dos seus mutirões habitacionais. Pode ser resolvido, só não vê quem não quer. Agora, eu pergunto: será que esse governo pensa que a população não está entendendo isso? Eles fazem os cartazes, suplicam, imploram um direito que lhes devia ser sagrado! Apenas querem morar, querem ter seus filhos debaixo de um teto, não querem vê-los debaixo de escadarias, debaixo de pontes e por aí, na rua, ao relento. É um direito desesperado do pobre. Quem pode comprar imóvel? Quem pode? São muito poucos trabalhadores que podem fazê-lo. E os interesses desses executivos que estão por aí, não sei se é bem da população brasileira; não sei que interesses defendem, porque não estou por dentro das suas ideologias. Eu, sim, defendo os interesses dos trabalhadores, todos os seus direitos! Todos! Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Rafael Santos): Com a palavra, o Ver. Frederico Barbosa, em Comunicações.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Tenho, nos últimos dias, ouvido e lido algumas manifestações com referência à permanência ou não minha e de outros companheiros na Bancada do PFL nesta Casa. Tenho, inclusive, feito algumas manifestações, diga-se de passagem, quando procurado pela imprensa, porque é do meu estilo não deixar nenhuma pergunta sem resposta. Não me manifestei nesta tribuna até a presente data, mas acho que está no ponto de se dizer alguma coisa com referência a tudo que já saiu, a tudo que já disse, a tudo que fui perguntado e a tudo que respondi. Quero deixar absolutamente claro que a opção pelo Partido da Frente Liberal fiz com absoluta tranqüilidade e responsabilidade, me apresentando e decidindo que se o Partido me aceitasse eu estaria trabalhando como fiz até a presente data e como antecipo desejo continuar a fazer e por ele, se possível, disputar as eleições que se aproximam em 15 de novembro.

Durante toda a permanência nesta Casa, já há quase 9 anos e há algum tempo na Bancada do Partido da Frente Liberal não tenho dúvidas em dizer que me agrada extremamente a convivência com os companheiros de Bancada, com os 5 Companheiros que comigo somam a totalidade da Bancada do PFL e que tem, inclusive, na liderança firme, tranqüila e conhecida desta Casa e do povo de Porto Alegre do Ver. Raul Casa um condutor sábio que agrada a mim e a muitos a maneira com que realiza a missão que lhe foi confiada pela Bancada por unanimidade.

Espero, Srs. Vereadores, Srs. da Imprensa, Srs. Funcionários, permanecer no PFL. Não tenho qualquer convite para sair do PFL. Gostaria de ser absolutamente claro: se motivo existir para sair do PFL, sairei por conta própria, fazendo o que fiz com o PFL me apresentando diante dos dirigentes da sigla que, por ventura, achar que posso defender porque sempre assim agi. Tentarei ir para um lugar onde possa realizar um trabalho pelo menos que responda a confiança que me derem. Não por um convite, mas, sim, por uma decisão pessoal e quero afirmar da tribuna: não tenho e não recebi nenhum convite para deixar o PFL.

 

O Sr. Nereu D’Ávila: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Apenas para me solidarizar, e mais do que isto, parabenizar V. Exa. pelo posicionamento claro, definido, que V. Exa. imprime ao seu pronunciamento, porque de fato, quem analisa de fora, e mais do que nós, que estamos acompanhando mais de perto os fatos políticos, o povão, as pessoas, até porque não têm tempo, que se baseiam em notícias da imprensa, assim de longe, parece um verdadeiro leilão que se está fazendo com o PFL e o PDS.

V.Exa. coloca as coisas no devido patamar de dignidade partidária, o PFL não teria nem votos para disputar, o que, sinceramente depõe desfavoravelmente. E como V. Exa., eu também, entendo que tem que se assumir o que se faz, se V. Exa. está, vai permanecer, vai sair, vai dizer para onde vai, e não ao bel-prazer de A, B ou C, na dança de siglas partidárias. Isto desmoraliza não o Partido de V. Exa., que estaria por comentários deste teor sendo até atingido no seu perfil, mas também a todo o quadro partidário, que dá impressão de uma insegurança tal, que apenas para garantir o aspecto eleitoral, os Vereadores vão se encostar em outro Partido. Isto pega muito mal. Portanto, acho que V.Exa. coloca muito bem e repõe para o PFL as coisas nos seus devidos lugares.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Obrigado, Vereador. Diria que tenho consciência das dificuldades que um Partido como o meu possa ter para aglutinar um grande número de votos, na representatividade que tem, por exemplo, o partido de V. Exa. Mas, gostaria de dizer que assim como tenho muitos amigos no Partido de V. Exa. tenho enorme apreço e grandes amigos no Partido, por exemplo, do Ver. Jorge Goularte, que nesta Casa é um Partido de um Vereador, mas, acima de tudo, e ele sabe disto, tem na liderança maior um homem a quem respeito, dedico amizade e tenho a impressão que todo este País sabe da qualificação pessoal do ilustre, competente, Dep. Álvaro Valle.

Portanto, não seria por um Partido que possa ter mais votos, ou atrair mais votos que eu deixaria de fazer minha opção, porque tenho respeito a partidos grandes e partidos pequenos, sem demérito em dizer, partidos pequenos, porque o próprio Ver. Jorge Goularte sabe disto. Apenas, Ver. Jorge Goularte, espero ter a oportunidade, isso sim quero dizer da tribuna, dentro dos quadros do meu Partido, e que a direção do meu Partido a nível regional tenha consciência disso, espero ter oportunidade de continuar trabalhando, como fiz agora, e de continuar lutando por um espaço dentro do meu Partido. Tenho muita honra de ter participado do movimento municipal do meu Partido, que levou, por força de conscientização dessa Bancada, que aqui está, e das zonais do PFL, o Dr. Mário Bernardino Ramos, à Presidência do Diretório Municipal, figura por demais conhecida dessa terra, dessa Capital e desse Estado.

 

O Sr. Jorge Goularte: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Nobre Vereador, eu sou testemunha de que V. Exa. foi o primeiro Vereador a acompanhar Aureliano Chaves, há muitos anos, quando nós queríamos umas prévias nacionais para escolhermos o candidato do PDS à Presidência da República.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Junto com Marco Maciel. E, alguns me condenaram por escolher, como questão pessoal, Aureliano Chaves e Marco Maciel para minha dobradinha, mas eu fiz.

 

O Sr. Jorge Goularte: E V.Exa. é um homem que não precisa ser convidado para ingressar em partido algum. Tem um nível tão elevado que honraria qualquer partido com sua participação, especialmente de um partido em formação como o PL. Porque se o PL tivesse a honraria de receber em seus quadros V. Exa., seria de extrema validade, para um Partido que vai enfrentar as dificuldades, por estar sendo formado com muitas dificuldades, mas que vai correr sozinho, porque foi a decisão das zonais, a Direção Regional e que a Bancada Municipal se soma à decisão da maioria em termos partidários.

 

O Sr. Aranha Filho: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Faz bem V.Exa., inclusive é oportuno o esclarecimento de V. Exa. da tribuna, diante dos comentários de que os nossos veículos de comunicação apresentam à população de Porto Alegre. E retrata bem, inclusive, a análise do Ver. Nereu D’Ávila, quando faz uma colocação que, inclusive, ele mesmo estando próximo a nós, não sabe da real situação. E é isto que, exatamente, o grande público está a entender. Portanto, V. Exa. coloca, da tribuna, os pingos nos “is”. E é exatamente da colocação de V. Exa. que eu faço minhas as suas palavras. Em momento algum – em momento algum, mesmo – pensei em sair do Partido que me abriga; em momento algum pensei em sair do Partido da Frente Liberal. Mas, estávamos e estamos, até hoje, abertos ao diálogo, para coligações. Jamais pensamos em sair do Partido. Isto eu falo em meu nome, atendendo e dando apoio ao seu pronunciamento, Ver. Frederico Barbosa.

 

O Sr. Elói Guimarães: V.Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Estou acompanhando a sua manifestação, e parece que é incorrigível na colocação, mas gostaria de dizer, também, da forma como a notícia está sendo colocada, que não há nenhum agravo se convidou o Prefeito ou se pretende convidá-lo, Vereadores do seu Partido ou de outras siglas. Isto não se constitui nenhum agravo a quem quer que seja, pois, afinal, vivemos na democracia. Então, eu gostaria de preservar, nesta discussão, a figura do Sr. Prefeito Municipal.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Se o Presidente da Mesa me permitir um minuto apenas para resumir, pois o aparte do Ver. Elói Guimarães, também é muito importante no meu pronunciamento. A manifestação de que não recebi é porque não recebi; mas, nada teria de agravo se recebesse. O Sr. Prefeito Municipal, no almoço que teve com a Bancada, foi extremamente ético – e não quero dizer que se tivesse convidado seria anti-ético – e já se disse, publicamente, que a conversa foi em um minuto apenas, até se diria que foi na sobremesa, que foi dito sobre a possibilidade de uma coligação, quem sabe. Pretendo definir dois pontos: em primeiro lugar, só sairei do PFL se o mesmo não encontrar soluções que, pelo menos, abriguem a idéia geral que tem sobre como concorrer numa eleição e como, inclusive, permanecer unido entre os companheiros, dentro de um mesmo Partido. Esse é o item 01. Em segundo lugar, gostaria muito de concorrer sozinho às eleições de 15 de novembro, sem querer ser empecilho nenhum a qualquer coligação que meu Partido venha a fazer. Mas, volto a repetir, a minha idéia é de sair sozinho e assim estou fazendo. O meu comitê eleitoral de trabalho está desde ontem aberto com as cores do PFL, com a sigla do PFL, com o trabalho do PFL e com o desejo, acima de tudo, de enfrentar a opinião pública com um Partido que não tenho por que, nem medo e nem preocupação, sabendo dos problemas que irá enfrentar, por enfrentar Partidos maiores, mas é um Partido que tem respaldo de grandes lideranças a nível de Porto Alegre, a nível do Rio Grande e a nível nacional.

Era isso que eu queria colocar, dizendo a todos que, nas entrevistas que tenho dado, tenho afirmado com a frase que há poucos dias, não sei se ontem, ou anteontem, está estampada no Correio do Povo: “Se tiver que sair, não sinto demérito nenhum e nenhuma preocupação em sair”. Mas o meu desejo é permanecer lutando num espaço que me é extremamente grato, porque tenho dito a todos, aos meus companheiros e aos companheiros desta Casa, que a Bancada do PFL me deu uma oportunidade muito grande de crescer perante mim mesmo e, conseqüentemente, ousaria dizer, inclusive, perante aqueles que acompanham meu trabalho. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, a Vera. Teresinha Irigaray pelo tempo que lhe cede o Ver. Elói Guimarães.

 

A SRA. TERESINHA IRIGARAY: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a tarde é essencialmente política. Já se falou sobre diversos temas focalizando candidatos ou o próprio candidato se situando dentro do seu espaço político.

Então, nesta tarde, eu tenho muito orgulho e muita felicidade em poder, também, lançar o nome de um candidato, mais precisamente de uma candidata. Todos os Vereadores sabem e todas as pessoas aqui presentes sabem da luta das mulheres, da desigualdade dentro dos mais diversos segmentos sociais, da desigualdade do desnível dentro das desproporções oferecidas no País. O desnível a nível funcional, desnível a nível financeiro, social, emocional, a mulher sempre foi muito discriminada, extremamente marginalizada, principalmente em se tratando de situações políticas. Estamos brigando, lutando, há muitos anos, para sairmos deste condicionamento cultural imposto – e aceito até por nós – dentro da sociedade em que vivemos. Mas estamos conseguindo subir, degrau por degrau, e tentando assumir as nossas definitivas e verdadeiras posições, ao lado de nossos companheiros. Neste momento, em meu nome pessoal, não falo em nome da Bancada – e isto fica perfeitamente claro, cristalino – falo no meu nome pessoal, eu lanço, com muito prazer, o nome de uma companheira minha para a futura eleição municipal ao cargo de Vice-Prefeito desta Cidade. Lanço um nome tradicional do Partido, um nome historicamente imbatível, um nome que se tem posicionado em diversas lutas, que fez toda uma campanha na luta pela anistia, uma mulher que vem se destacando, hora a hora, dia a dia, e que foi, ao lado de seu companheiro político, uma verdadeira estrutura, um verdadeiro alicerce, uma verdadeira fortaleza. Eu falo, neste momento, nesta tarde, no nome da companheira Lícia Peres. Acho que, lançando a Socióloga Lícia Peres à Prefeitura de Porto Alegre, estaremos, precisamente, nós políticos do PDT, resgatando, culturalmente, e politicamente, o nome do nosso Vice-Prefeito falecido, Jornalista Glênio Peres. Todos nós, toda a comunidade, toda a cidade de Porto Alegre sabe do trabalho social, do trabalho político, do trabalho participativo de Lícia Peres. Todos nós sabemos, nós o Partido, o que ela representa dentro do eleitorado feminino e todos nós sabemos, também, que este resgate político à memória de Glênio Peres até se impõe, por um dever de consciência, não digo que por uma obrigatoriedade, mas porque queremos dar a sua esposa, a sua companheira, o que Glênio Peres não pôde, ou não conseguiu, ou não teve tempo, ou não se oportunizou que ele fizesse dentro da cidade de Porto Alegre. Glênio Peres era uma figura querida dentro da Cidade. Glênio Peres o Jornalista, Glênio Peres o Político, Glênio Peres o Vereador, Glênio Peres o Vice-Prefeito, uma figura conhecida em todas as ruas, em todos os lugares, uma figura respeitada e amada pelos porto-alegrenses, e sua mulher, Lícia Peres, é combativa, atuante, militante de um partido político de grandes proporções, e o eleitorado feminino de Porto Alegre, que se compõem de 53%, acho que lançando uma candidata mulher, uma candidata que assuma as reais funções que a mulher deve ter numa sociedade contemporânea, estaremos auxiliando o campo da educação, da saúde e estaremos dando a meta prioritária do Partido, a sua verdadeira diretriz. Neste momento, sou porta-voz de mim mesma, sequer consultei meus companheiros de Bancada que podem ter outros candidatos, ou outras candidatas, estou falando, digo e repito, de maneira pessoal, porque acho que é um dever de justiça, um dever consciente, enxergo a figura do nosso querido Vice-Prefeito, falecido, que, praticamente, não conseguiu fazer quase nada por uma Cidade que ele muito amou, e uma Cidade que o respeitava. Acho que a figura combativa, ilustrada, e estruturada da Socióloga Lícia Peres, dará à campanha política, dará ao PDT um rumo muito bom, um rumo saudável, certo, um rumo concreto, e completo.

 

O Sr. Nereu D’Ávila: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vereadora, apenas para me congratular com o pronunciamento de V. Exa. e adicionar, aos seus convincentes argumentos, no lançamento da nossa companheira Lícia Peres, a Vice-Prefeito, adicionar, e V. Exa. até condicionada, modestamente, pela sua condição de mulher, apenas está elencando argumentos dos atributos pessoais da nobre candidata que são até excessivos, aos quais também enfatizo, mas sob o meu ângulo pessoal, entendo que a companheira também é uma boa candidata, porque no nosso partido existem mulheres militantes, a nível da que V. Exa. está tratando, como, por exemplo, V. Exa., e muitas outras, que tem a mesma possibilidade e tem o mesmo nível e patamar de serem lançadas candidatas, como Lícia Peres. Só faço este aparte para ressaltar que V. Exa., naturalmente jungida pelos condicionamentos de ordem pessoal está apenas expressando os atributos da nossa Lícia Peres. Mas também V. Exa. ou outra qualquer militante poderia honrar a candidatura majoritária às próximas eleições. Mas, de qualquer modo, para não dizer que há restrições ou se quer tirar ilação disso, eu também reafirmo com V. Exa. que estaríamos todos nós bem representados na pessoa de Lícia Peres para Vice-Prefeito. E mais do que um atributo pessoal a que eu me refiro também é o avanço que as mulheres estão consignando não só nos partidos políticos, mas em todos os setores. Seria também do nosso Partido mais do que uma homenagem, o reconhecimento ao extraordinário trabalho das nossas companheiras do nosso PDT.

 

A SRA. TERESINHA IRIGARAY: Agradeço a V.Exa. pelo aparte, nobre Vereador. Ver. Flávio Coulon.

 

O Sr. Flávio Coulon: Gostaria, também, de me congratular com V. Exa. pela brilhante lembrança de uma mulher para o cargo de Vice-Prefeita, a companheira Lícia Peres já esteve no MDB e deixou o seu nome gravado dentro deste partido. Eu só, a título de sugestão, embora não seja um problema de economia interna dentro do PDT; eu gostaria de sugerir que quando o Governador Leonel Brizola escolhesse um candidato a Prefeito do PDT; ele levasse em conta alguém que se desse bem com a Dra. Lícia, para evitar as tristezas, os constrangimentos que sofreu o seu marido quando era Vice-Prefeito. De modo que eu acho que seria uma carga muito pesada exigir demais da Dra. Lícia que ela viesse sofrer tudo, novamente, o que ela sofreu ao lado de Glênio Peres.

 

A SRA. TERESINHA IRIGARAY: Eu agradeço o aparte de V. Exa., Ver. Flávio Coulon e Sr. Presidente, Srs. Vereadores, lançar o nome de Lícia Peres é mais do que um resgate político, é mais do que um resgate histórico. O nome de Lícia Peres realmente é uma bandeira de luta e eu creio, Ver. Flávio Coulon, que nesta eleição, como em qualquer uma das outras eleições, mas mais precisamente esta, só poderá subir no palanque e enfrentar o povo, quem tem uma história política para contar. Quem pode olhar nos olhos do povo. Quem pode falar a sua linguagem, quem pode contar uma história de um passado político, de um passado de tradição, de um passado onde se empunhou uma bandeira pela anistia dos companheiros atingidos por atos de arbitrariedade, por prisões, por crime, por calúnia, por exílio, eu acho que esta é toda uma história de um Partido Político; Lícia Peres, junto com inúmeras companheiras, eu até nem posso enumerá-las tantas são, mas Lícia seria a representante ideal, porque Lícia Peres vivenciou esses momentos, Lícia Peres tem o que contar dentro de um palanque. Ela, subindo morros de Porto Alegre, percorrendo as ruas da Cidade; em qualquer zona ela estará tão situada, porque ela saberá traduzir a linguagem, os anseios, as aspirações do povo porto-alegrense e das mulheres desta Cidade.

 

A Sra. Jussara Cony: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento da oradora.) Vera. Teresinha Irigaray, há poucos dias, no primeiro momento que se colocava a questão da candidatura da Lícia nos encontramos no gabinete do Presidente da Assembléia Legislativa, em mais uma luta em comum em relação à questão da garantia das eleições municipais e outras questões políticas colocadas para todo o povo brasileiro. Hoje, eu cumprimentava a Lícia por um trabalho conjunto há muito realizado que extrapola a própria questão partidária, mas vai exatamente ao encontro dos compromissos que temos tido, muitos, inclusive V. Exa., na luta pela emancipação da mulher que corre junto com a luta pela libertação do nosso povo. Dizia a Lícia dessa importância, como também ela dizia da importância da nossa candidatura à Prefeitura de Porto Alegre e dizíamos da certeza, que não apenas as nossas, mas de tantas outras mulheres que se expressassem, seja para a Prefeitura, para a Vice-Prefeitura, para a Câmara Municipal de Porto Alegre, somariam, decisivamente, no atual momento em que vivemos, não apenas sob o ponto de vista da questão da mulher, mas sob o ponto de vista do próprio avanço pela democracia. Por isto, eu me congratulo com V. Exa., pela luta em comum que temos tido tantas de nós, onde a Lícia, sem dúvida nenhuma, é um expoente.

 

A SRA. TERESINHA IRIGARAY: Sou grata pelo aparte da Vera. Jussara Cony e, para finalizar, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, mais uma vez, lançando a candidatura desta nossa eminente companheira da Ação da Mulher Trabalhista, Dra. Lícia Peres, à Vice-Prefeitura de Porto Alegre, sinto-me feliz, gratificada, porque acho que é mais um avanço das mulheres, é mais uma condição, é mais um espaço percorrido, é mais uma batalha ganha de nós sairmos desse condicionamento cultural em que vivemos e abrirmos os espaços políticos, abrirmos os nossos caminhos, para, junto com os homens, tornarmos essa sociedade mais amena, mais fraterna, mais democrática, mais cristã. O lançamento da candidatura de Lícia Peres se impõe como uma realidade atual, dentro do Partido, dentro dos nossos momentos, dentro dos nossos dias e é, posso dizer e assegurar aos Srs. Vereadores, já é uma determinação das mulheres do meu Partido, já é, praticamente, uma candidatura irreversível à Vice-Prefeitura da cidade de Porto Alegre. Seja qual for o candidato a Prefeito, nós estaremos lançando o nome da nossa candidata Lícia Peres à Vice-Prefeitura da cidade de Porto Alegre. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Adão Eliseu.

 

O SR. ADÃO ELISEU: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Em primeiro lugar, quero agradecer à cessão deste tempo por parte do Ver. Ennio Terra, o que possibilita me colocar ao lado da Verª Teresinha Irigaray, quando vem a esta tribuna e lembra o nome de uma companheira nossa para integrar a chapa prefeito, vice-prefeito da cidade de Porto Alegre. Quero lembrar aos Srs. Vereadores que, na época da ditadura, tive oportunidade de ver, de comprovar, de constatar quem era quem. Quem estava nas ruas, nas praças, nas tribunas lutando pelos direitos humanos, e quem estava esperando que os outros fizessem este trabalho, ficando ao calor do lar, da família da lareira, saboreando um bom chimarrão, um bom vinho, uma boa bebida. Há esses dois tipos de criaturas, umas que saem para a luta e outras que esperam que outros lutem por ela. Pois a Lícia Peres tem, realmente, uma tradição de luta e pertence a este grupo que, nos momentos difíceis, nos momentos em que era difícil se integrar no MDB, no movimento de oposição à ditadura, ela se enfileirou. Ela, Mila Cauduro e tantas outras mulheres percorriam o centro da Cidade, as praças, os logradouros no sentido de sensibilizar a ditadura, os militares, enfim, os detentores do poder daquele momento, para anistiarem, no sentido da anistia, da concessão, da anistia aos injustiçados de 64, aqueles que realmente fizeram história em nosso País. Queriam, portanto, um Brasil melhor, um Brasil mais avançado, um Brasil mais progressista, e esta mulher – não me vai na alma, não me passa pela cabeça a idéia de prestigiar a mulher, de fazer o que os outros fazem aqui da tribuna. Acho que todos somos iguais. Temos os mesmos direitos, tanto o homem como a mulher. Mas me parece que neste momento a Verª Teresinha Irigaray tem razão, quando é relembrado numa sociedade machista – tida como machista – o nome de uma mulher para uma candidatura, me parece muito interessante. Agora, acho que não é só por isso, Srs. Vereadores. Não é só pelo fato de ser mulher que ela seja escolhida para integrar uma chapa à Prefeitura de Porto Alegre. Eu, para mim, uma pessoa, tanto faz do sexo masculino ou do sexo feminino, tem que ter um pouco de talento, tem que ter um pouco de conhecimento para poder exercer uma função executiva e até uma função legislativa. Não se concebe que alguém que não tenha capacidade de trabalho, não tenha um pouco de cultura, não conheça os problemas de nossa cidade, seja ele homem ou mulher, cometa a veleidade de se candidatar a um destes cargos. Então, meu discurso não tende para este lado. Acho que as mulheres têm todos os direitos, os direitos do homem, assim como negro, branco, amarelo. Basta ter talento. Está aí o Prefeito de Porto Alegre. É negro e, no entanto, foi um dos deputados mais brilhantes desta República, num determinado momento histórico. Tantas mulheres estão aqui, várias Vereadoras com talento, com capacidade, brilhando nas tribunas deste Rio Grande, nessas campanhas políticas pelos campos e pelas cidades. Então, o meu discurso não envereda por esse caminho, mas pelo caminho da capacidade e do talento. E a Lícia Peres, portadora de um passado brilhante, se for escolhida pelo nosso Partido, pela sua postura progressista, pela sua posição que se coaduna perfeitamente com a postura deste Vereador socialista-democrático, faço questão de afirmar – sei que é muito difícil aceitar isso de minha parte por ser oriundo de uma corporação policial militar – e não me pejo em absoluto de fazer esta colocação, é, para mim, uma candidata que só virá reforçar, empurrar ou puxar, por assim dizer, qualquer candidato do PDT à Prefeitura de Porto Alegre. Ela, realmente, demonstrou através dos anos, em momentos difíceis e depois da abertura, ao lado de seu companheiro Glênio Peres, uma postura bastante avançada, uma postura progressista. Porque de candidatos – pelo nosso ou pelos demais partidos – que somente queiram buscar posições, apenas o poder pelo poder, eu realmente estou saturado. Eu não estou na política por essas razões. Estou na política não depois da abertura, mas muito antes da ditadura e sofri as minhas dificuldades com a ditadura por ser integrante da Brigada Militar. Portanto, tenho o direito, sem favor nenhum, pois não espero favor de ninguém, nem de Prefeito algum para a minha pessoa, senão, estaria fazendo uma política proselitista em torno de um nome para a Prefeitura a fim de buscar atenções e favores. Em absoluto, o que eu desejo para a Prefeitura de Porto Alegre, para que se consagre a expressão socialismo democrático, governo socialista e, por que não dizer, socialismo moreno, expressão citada pela oposição nesta Casa no sentido pejorativo e até no sentido racista e eu digo em altos brados, por que não socialismo moreno? Já que nosso País é integrado por uma raça morena, uma raça que assombrará este continente no dia em que nós tivermos consciência do nosso poder, tivermos consciência do poder de cada um e o poder de um ligado ao outro, no sentido da solidariedade humana, no sentido do verdadeiro socialismo.

Estas, Senhores Vereadores, são coisas que me passam pela mente no momento em que me somo ao discurso da Verª Teresinha Irigaray quando lança em altos brados, em altas vozes, o nome de uma mulher, que não é por ser mulher, é por ser progressista, por conhecer os problemas de nossa Capital, por conhecer os problemas políticos de nosso Município, por conhecer os problemas políticos do nosso Estado, por conhecer os problemas políticos de nosso País e por saber que estamos atravessando momentos difíceis. E para solucionar os problemas difíceis nós teremos que partir do Município, teremos que partir da menor célula administrativa, que é o Município, e aqui em Porto Alegre no próximo Governo que será fatalmente do PDT com Lícia Peres e outro personagem, outro valor de nosso Partido, levado pela excelente administração, quer queira quer não queira a Oposição e ela tem o direito de não aceitar as nossas afirmações, mas é uma excelente administração e com todo este material, com todos esses elementos, nós vamos pegar o fato luminoso e levarmos para a frente, implantando definitivamente com Lícia Peres e outros candidatos que virão a Prefeitura de Porto Alegre nós vamos realmente implantar aquilo que sempre desejamos, aquilo que o Collares está semeando em nossa Capital, a semente do socialismo democrático. Esse é um Partido que tem lugar para gente avançada, tem lugar para gente progressista. Nós vamos banir de nossas fileiras, de uma vez por todas, aqueles que entraram equivocados em nosso Partido, com a candidatura de Lícia Peres com outro cidadão, companheiro que virá depois. E até aquele que o Brizola indicar, e por que não? E por que não, já que ele se constitui no maior político, e um político da envergadura da estatura de Leonel de Moura Brizola tem realmente o direito de opinar, tem o direito de ser ouvido, porque é um dos políticos de maior renome deste País. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Flávio Coulon, por dez minutos.

 

O SR. FLÁVIO COULON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, pois vou falar, hoje, de problema da cidade, pelo menos, para alguém falar em problemas da cidade.

Em primeiro lugar, vou abordar um tema que era para ter sido resolvido pelo Ver. Elói Guimarães, mas ele não teve tempo para resolver. Trata-se do problema dos táxis na rodoviária, ou seja, os táxis na rodoviária tomaram conta de todo o estacionamento, nos dois lados, e o pobre do usuário comum, aquele que chega com seu automóvel, com sua família com cinco ou seis malas e com cinco ou seis filhos, não consegue encostar mais e chamar um carregador para que carregue as suas malas, porque os táxis tomaram conta, lotaram todo o acesso. Sei, Ver. Elói Guimarães, que V. Exa. lutou para mudar este quadro, mas as forças ocultas foram maiores, de modo que faço um apelo à SMT, no sentido de que eles providenciem para que os pobres mortais possam chegar com seus automóveis junto aos carregadores. Porque as pessoas que se arriscam quase que são agredidas pelos táxis, sem que os fiscais da SMT tomem qualquer providência.

Então, este é um problema grave. As pessoas estão sendo constrangidas lá no acesso a Rodoviária e pedimos, desta tribuna, que a SMT tome a devida ciência. Também eu sei que o Ver. Elói Guimarães não pode solucionar um problema, uma velha aspiração dos moradores do Bairro Teresópolis, que anseiam por um ônibus Teresópolis que saia da Praça Guia Lopes e venha ao centro. Ou seja, que os moradores de Teresópolis possam pegar um ônibus vazio e não pegar ônibus só em trânsito, como atualmente ocorre.

Agora, um recadinho para o DMLU: Rua Padre Chagas ao lado do nº 171 tem um tapume lá, há mais de 4 anos, ocupando meia calçada, tem um terreno escavado e nunca mais fizeram nenhuma limpeza. Temos, em plena Padre Chagas, Moinhos de Vento, uma bela criação de ratos, de bichos, por conta da inoperância do DMLU. Seguindo a Padre Chagas, onde ela encontra a Olavo Barreto Viana, ao lado do n° 32, um terreno, onde demoliram algumas casas, totalmente aberto, servindo de lixeira e servindo de abrigo de pessoas menos favorecidas da sorte, que passaram a morar lá. Ninguém sabe por que esse terreno ainda não foi cercado, apesar de toda população do Bairro estar solicitando à SMOV, no sentido de que tome algumas providências.

Depois que eu fiz um pronunciamento perguntando os resultados de uma sindicância no Departamento de Iluminação, onde desapareceram lâmpadas e outros equipamentos, na ordem de 10 milhões de cruzados, fui procurado pelo Eng. Raul, excelente engenheiro, diga-se de passagem, um ótimo Assessor do Secretário Wilton, que me disse que o resultado da sindicância vai ser encaminhado. Eu até hoje não recebi o resultado dessa sindicância, espero receber. Aliás, agora, eu vou cumprimentar a Administração do Dr. Alceu Collares na figura do Sr. Secretário de Indústria e Comércio, Dr. Políbio Braga, que, ao fechar estas lojas clandestinas de ouro, nada mais fez do que atender, também, a um anseio popular. Estas lojas são lojas receptadoras em grande parte de ouro e jóias roubadas nas ruas pelos pivetes e que fazem a comercialização clandestina deste material roubado. Deveria existir uma Legislação Federal no sentido de proibir que a iniciativa privada comercializasse com ouro. Esta comercialização deveria ser feita somente através de uma organização estatal, porque o que acontece é que as pessoas roubam e existem milhares de comerciantes que compram ouro roubado, ou, pelo menos, uma centena de comerciantes. De modo que eu tenho que me congratular com a Administração Políbio Braga por ter fechado estas lojas clandestinas de comercialização de ouro.

Gostaria de fazer um comentário, também, a respeito do que é exatamente este País, que como alguns falaram e falam, o Brasil é uma Belíndia, ou seja, é a Bélgica e a Índia, a Bélgica dentro da Índia. E esta reflexão, esta palavra, me veio quando eu li, no jornal, uma notícia de que as casas estão afundando no Parque Cidade Verde. Então, pessoas de poucas posses que investiram as suas economias neste Parque Cidade Verde foram enganadas pelas empresas construtoras, foram enganadas pela empresa incorporadora e lá estão as suas casas, desmoronando. Ao mesmo tempo em que leio no jornal esta notícia, ao mesmo tempo em que leio no jornal que o pão aumentou 215% este ano, inviabilizando a vida dos menos protegidos, eu leio, no jornal, que uma empresa do Rio Grande do Sul lança um prédio com “griffe” de Pacco Rabane e Guy La Roche. Ao mesmo tempo em que as casas dos pobres, na Cidade Verde, estão se desmanchando pela má-construção, este mesmo País lança prédios com a “griffe” de Paco Rabane e Guy La Roche. Vejam o que é este País, onde temos que conviver – e convivemos – com a mais negra miséria e a mais alta ostentação de riqueza. Um País onde as pessoas morrem de fome, enquanto os mais bem aquinhoados jogam a comida, nos seus banquetes, fora.

Estas eram as reflexões que eu gostaria de deixar hoje, aqui, fazendo um apelo no sentido de que as respostas aos problemas da Rodoviária, do ônibus Teresópolis, dos terrenos da Padre Chagas e da Barreto Viana venham por parte dos ilustres Vereadores do PDT, um dos quais, talvez o mais bonito me olhe agora, com um olhar de soslaio, que muito me enobrece pela sua atenção.

Vou fazer um minuto de silêncio em homenagem à pobreza deste País.

 

(É guardado o minuto de silêncio do Ver. Flávio Coulon.)

 

Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PMDB Ver. Flávio Coulon.

 

O SR. FLÁVIO COULON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, há alguns tempos atrás, cheguei a lançar a idéia para o PDT de utilizar o nome da Secretária Dilma Linhares, porque confiava na grande eficiência da mesma, como candidata à Prefeita desta Cidade. Infelizmente, sofri uma grande decepção, mas acredito que não tenha sido fruto da cabeça da Secretária Dilma Linhares. Alguns maus conselheiros da mesma a fizeram enveredar por um caminho que ficou muito mal para ela, pois esta acabou passando o atestado de pouco inteligente, e eu me refiro à Liminar que o Estado venceu, em relação àquela célebre causa em que o Prefeito Alceu Collares entrou contra o Governo do Estado e contra o cidadão Pedro Jorge Simon. Pois a alegria do PDT não durou nem uma semana, porque o mesmo Juiz que havia concedido a Liminar, cassou-a e, com surpresa, eu leio no jornal, hoje, que o Dr. Matias Nagelstein vai insistir. Bom, vai insistir e vai pagar vexame de novo, porque realmente é um vexame o que o PDT está pagando. Vejam qual é a sistemática de pagamento do Estado, atualmente. Primeira parcela: paga no dia 15 de cada mês, estimada antecipadamente, com base na proposta orçamentária. Segunda parcela: paga no dia 25 de cada mês, estimada antecipadamente com base na proposta orçamentária. Terceira parcela, o resíduo que o PDT reclama: paga no segundo mês subseqüente ao da arrecadação, representando a diferença entre o valor estimado e o efetivamente arrecadado. Ora, existem mais dois critérios, além destes que o Estado adota: o primeiro seria através da Resolução 364/83. Ou seja, se o Estado adotasse esta Resolução, o pagamento seria efetuado em uma única parcela, até o último dia do mês seguinte. Qual é a sistemática que o Governo do PDT desejava? Decreto 1.216/72.

Sr. Presidente, peço que V. Exa. desconte um pouco do meu tempo, para que possa saudar a presença, nesta Casa, do Deputado Carlos Araújo, que muito honra este Plenário. Seja bem-vindo.

Se o Estado adotasse o Decreto Lei 1.216/72, como quer o Governo do PDT, o pagamento seria efetuado da seguinte forma: até o dia 25, a parcela correspondente à arrecadação da primeira quinzena. Até o dia 10 do mês seguinte, a parcela correspondente à arrecadação da segunda quinzena. Agora, vejam os Srs. Vereadores o comparativo entre o que o Governo do PDT queria e a realidade: se fosse adotado o critério pelo qual o PDT está brigando, desde 1983 até 1988, com exceção de um ano, que foi 1986, o Município teria prejuízo. Se fosse adotado este ano o critério que o PDT gostaria que fosse adotado, o prejuízo seria em torno de 30 mil OTNs. Então, como o Município não tem interesse pela cidade de Porto Alegre, o Estado está tendo o cuidado de ter esse interesse.

Para encerrar, um dado estarrecedor, para mostrar como o PDT não tem nem autoridade moral para falar sequer em ICM. Vejam, ao longo dos anos, sempre, inclusive, no primeiro ano de governo do PDT, o PDT perguntou à Fazenda qual seria a previsão de arrecadação, e em cima disso, ele fez a sua previsão; neste ano de 88, que é um ano eleitoral, pasmem os senhores Vereadores, é uma denúncia, a previsão da Fazenda foi de uma arrecadação de 2 milhões, 880 mil cruzados de ICM, o que daria uma previsão de 240 mil cruzados por mês, e em cima disso o Estado repassa; vejam, o que que a Secretária da Fazenda do Município fez: ela orçou a arrecadação em um milhão, 923 mil, 750, ou seja, a arrecadação média de 160 mil por mês, e não 240, como o Estado disse que iria ser. Logo, eles estão se queixando de que o Estado paga antecipadamente sobre 160 mil, Sr. Presidente, mas se tivessem seguido a previsão do Estado, o Estado estaria pagando antecipadamente sobre 240 milhões, logo, a Secretaria Municipal da Fazenda escamoteou, na previsão, cerca de um milhão de cruzados, entre a previsão feita pelo Estado, e a previsão feita pela Secretaria Municipal da Fazenda, 2.880, dizia a Fazenda do Estado, que seria a previsão de arrecadação, e pelo Município, 1.923. Logo, agora, estão recebendo sobre esta previsão e estão reclamando, ou seja, este é um ano eleitoral, e sabemos que as verbas devem ficar meio perdidas no espaço. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Rafael Santos): Antes de conceder a palavra ao próximo orador, eu queria saudar, em nome da Mesa, o Deputado Carlos Araújo que visita esta Casa na condição de Presidente do Diretório Metropolitano do PDT. É com satisfação que a Casa recebe a visita do ilustre Deputado e solicito que se considere em sua própria casa.

Com a palavra o Ver. Elói Guimarães, em tempo de Liderança do PDT. V.Exa. tem 5 minutos sem apartes.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, receba, companheiro Carlos Araújo, a saudação da nossa Bancada. O companheiro Carlos Araújo é um dos candidatos do PDT à Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

Mas, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, tivemos aqui, na tribuna, o Ver. Flávio Coulon a dizer um conjunto de impropriedades. Eu venho à tribuna, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, para analisar a fala do Sr. Ministro da Fazenda que, ontem e hoje, pelos meios de comunicação, diz uma grande piada para este País e para esta Nação. Eles que enganaram em 86, vergonhosamente, a Nação, em 1986 com o Plano Cruzado. Mas ontem disse uma grande piada o Ministro do PMDB, Ver. Flávio Coulon, diz que a economia vai-se desorganizar. A economia nacional, se o Congresso Nacional der anistia à correção monetária, a economia vai-se desorganizar e nós vamos ingressar numa hiper-inflação. É a piada nacional. Esta é uma piada nacional, porque, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, se nós examinarmos a situação do País, e é bom que todos que possuem automóveis encham o tanque, porque agora, no final da tarde, na madrugada, os preços dos derivados do petróleo vão ser alterados. Deve vir um reajuste, aí, da ordem de 20%.

Então, o Ministro do PMDB, o Ministro da Nova República, porque a Nova República é simbolizada pelo Plano Cruzado, o Plano Cruzado simboliza a mentira! A mentira nacional; a mentira que aplicaram neste povo.

Vejam, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o Ministro vem, aos meios de comunicações, dizendo que a economia vai-se desorganizar; imagina se tivermos maior desorganização do que a que estamos assistindo. Este País caminha de passos largos ao abismo e ainda o Ministro diz que nós vamos à anarquia da economia, então, eu considero uma grande piada, a piada nacional, as declarações do Sr. Ministro.

Do Plano Cruzado, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, que hoje estamos pagando, que está pagando a Nação, que vem pagando a Nação desde o ano passado; que alternativas restam? E vejam o que aconteceu, porque o Governo que agora diz que não gera recursos, que os recursos são buscados através da contribuição da população – agora ele diz, mas no Plano Cruzado trabalhou com os recursos da Nação. O Governo que assim diz agora, cometeu o seguinte crime contra lavradores e os pequenos agricultores deste País; fizeram empréstimos sem correção monetária e o povo acreditou, as empresas pequenas, os produtores rurais pequenos acreditaram que teriam o empréstimo para a produção, vejam bem! A grande massa de endividamento dos pequenos produtores foi para aplicar na produção, só que não conseguem pagar agora. E se essa gente, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, não tiver um tratamento do Governo vão perder as suas chácaras e as suas terras. Nós estamos vivendo hoje uma situação muito séria que é a situação dos pequenos produtores, dos microempresários que não têm recursos para pagar suas dívidas e vão terminar perdendo o seu instrumento de trabalho. Evidentemente que estamos diante de um impasse e é bem verdade porque quem vai pagar a conta não é o Governo que manipulou eleitoralmente para ganhar as eleições de 86 com o chamado Plano Cruzado. Quem vai pagar as contas são os operários, os trabalhadores, a Nação como um todo. Então, fica aqui a nossa manifestação para dizer que a situação do País, a situação da economia, nós aqui que somos Município, e todos sabemos que vivemos num estado unitário, o Município de Porto Alegre, o Município de Porto Alegre é discriminado. Sabem todos. Pois não vem nenhum recurso federal ao Município de Porto Alegre; além do mais, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, os resíduos que é direito do Município receber, o Estado não os repassa. E vem o Ver. Flávio Coulon trazendo aqui uma numerologia, dizendo que falta isto, falta aquilo. Não corresponde à verdade, Ver. Nei Lima. São dados que ele manipulou, sim, da tribuna. Então fica aqui a nossa manifestação para dizer que o Ministro da Fazenda aplicou, ontem, uma das maiores piadas que este País já ouviu. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa apregoa uma Emenda de autoria da Vera. Teresinha Irigaray, que altera a redação do artigo 35, 40, b e 43, do PLE 28/88 – Plano de Carreira do Magistério Público Municipal. Desejo, igualmente, registrar as presenças, nesta Casa, do Sr. Vito Rosales, Diretor-Presidente do DMLU e Secretário do Diretório Metropolitano do PDT, que recebe as nossas homenagens neste momento, e do Dep. Carlos Araújo.

Com a palavra, a Vera. Bernadete Vidal, em tempo de Liderança do PFL.

 

A SRA. BERNADETE VIDAL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. Mais uma vez venho à tribuna para reclamar um feijãozinho-com-arroz de P. Alegre, que é a falta de fiscalização – já digo feijão-com-arroz, porque já resolveram o problema nacional, já fizeram conta da tribuna, e eu só vou fazer uma perguntinha: onde, Srs. Vereadores, estão os fiscais de Porto Alegre? Ontem de manhã eu vinha pela Azenha e, depois, Perimetral, e vinha uma lotação escolar, que até mandei anotar o número – 287 – e vou passar para a Secretaria de Transportes, que vinha costurando, se enfiando, vinha pela direita, pela esquerda, de maneira que eu senti o perigo, eu ouvi o barulho infernal, estilo carro de magrinho, pois não tinha surdina. E essa lotação escolar, cheia de crianças, costurando, colando na traseira dos carros, apertando um aqui, outro ali, mudando de pista, como é que anda carregando crianças? Como é que tem carteira um motorista desses? É este registro que quero fazer da tribuna, porque não é o único, por isso, quero pedir à Prefeitura, à fiscalização da SMT, e à Brigada Militar, que fiscalizem essas conduções de transporte de crianças da escola para casa e da casa para a escola, as chamadas lotações escolares. Srs. Vereadores, não são poucas as vezes que os meus motoristas me contam sobre pessoas conduzindo carros cheios de crianças, em torno de 10 crianças, fazendo tropelias no trânsito, brincando, trocando de pista, querendo chegar primeiro, querendo passar todo mundo, levando filhos de pessoas que certamente não levam seus filhos na aula porque têm que trabalhar, e que pagam, e pagam muito caro. Alguns dos companheiros aí, que têm crianças na escola e que são obrigados a usar esse tipo de transporte, sabem que não está barato. Pois saibam V. Exas. que não está barato e está perigoso o transporte de lotação escolar em Porto Alegre. Eu peço à SMT mais um pouquinho de rigor, aliás rigor que está faltando para qualquer coisa na SMT: não se cumpre horário de ônibus, são licenciadas carteira para motorista de táxi para qualquer pessoa dirigir, de qualquer maneira e a Brigada parece que prefere muitas vezes – eu não sei que política é essa que a Brigada tem – multar carros parados do que procurar evitar as tropelias que são feitas no trânsito, porque o que mais se encontra na Cidade é a PM multando por mal estacionado – está certo tem que se multar também – mas vamos multar quem cruza sinal fechado, vamos multar quem não respeita velocidade, vamos multar quem está levando perigo para a cidade de Porto Alegre. Essa ausência de fiscalização que estamos notando não deve ser só por falta de fiscais, a SMT têm fiscais. Onde andam os fiscais da SMT? Em primeiro lugar, se licenciam e, depois, não fiscalizam. Não fiscalizam e aí está o nosso trânsito causando tantos problemas, tanta infelicidade, que as páginas policiais muitas vezes nem chegam a registrar. O Pronto Socorro é que registra bem direitinho. Querem saber como anda o trânsito na cidade de Porto Alegre é só dar uma chegadinha lá no plantão do HPS e pode chegar também no plantão do Hospital Cristo Redentor que poderá ter mais um pouco da imagem exata do que está sendo o trânsito na cidade de Porto Alegre. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Em tempo de Liderança, a palavra com o Ver. Hermes Dutra pelo espaço de cinco minutos, sem apartes.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Sábado à noite participei de uma reunião na Vila Restinga, promovida pela ACARE, cujo objetivo segundo ofício que recebi era debater o problema do excesso d’água porque, segundo as contas que alguns restinguenses estão recebendo do DMAE parece que eles moram na Av. Carlos Gomes, têm piscina, têm banheiras de hidromassagem, pelo volume de excesso d’água que eles estão pagando. A reunião teve lugar no salão paroquial da Igreja Católica daquele bairro e se proporcionou um debate muito interessante entre este Vereador e a comunidade. Na oportunidade houve reclamação do Presidente da Associação Comunitária, o Sr. Oribio Mingote que reclamou não ter a Casa enviado representante, a não ser este Vereador que foi de moto próprio, porque recebeu um convite pessoal, em virtude do Projeto que tramita nesta Casa, que é de minha autoria, que muda o cálculo da água.

Os moradores reclamaram muito dos Vereadores, e não sou daqueles que aproveito esta oportunidade para ficar de bem. Defendi os Vereadores. Disse que, inclusive, há uma consciência nesta Casa do erro que foi aprovar essa nova fórmula de cálculo de água, que, segundo o Prefeito Alceu Collares, beneficia os pobres, mas segundo a realidade os pobres da Restinga, da Vila Farrapos estão pagando duas ou três vezes mais em excesso d’água o valor da taxa mínima. Expliquei que aqui na Casa se nota uma disposição para mudar isto, e por fim disse que errar é humano e que esta Casa é a expressão da própria sociedade e como tal é afeita a erros, a idiossincrasias, não é diferente da sociedade porto-alegrense.

Devo confessar aos Senhores que eles não receberam de muito boa vontade as minhas explicações. Mas, havia uma reclamação maior lá, que era sobre o DMAE que não foi e que não mandou ninguém. O Sr. Diretor-Geral do DMAE não foi e sequer mandou um técnico, em respeito ao povo que naquele dia chuvoso saiu de suas casas, com as contas de água na mão para reclamar e para discutir. Certamente não foi porque sabia que elogios lá ele não iria receber.

Mas, o importante disto, Sr. Presidente, é que lá estavam todas as associações da Vila Restinga, a Associação dos Moradores da Vila Restinga, a AMOVIR, que é presidida por um cidadão que é do PMDB, estou citando os partidos para que V. Exa. veja a questão suprapartidária do problema. Estava lá, também, o Conselho Comunitário da Restinga, que é um senhor do PDT, que disse lá que era um militante do PDT, mas que não concordava com essa aberração que o Prefeito Alceu Collares, estava fazendo que é a taxa de água. Tinha eu que era do PDS, e outros lá de outros partidos, que não se identificaram, mas que na platéia pelas manifestações, dava para se notar sua militância. E foi unânime a condenação, Sr. Presidente, à nova fórmula de água. Eu sei que há alguns casos isolados, inclusive tenho discutido muito com o Dr. Petersen, que é um homem competente, educado, até disse isso lá, fui até vaiado por dizer. Mas a grande verdade é que de casos isolados, em caso isolado, nós não temos mais respostas a dar ao povo. Levantou-se uma senhora lá e disse: eu sou mãe solteira, tenho um filho que levo de manhã para creche, ganho 14 ou 15 mil cruzados por mês e, recebo o excesso de água no segundo mês seguido de 900 e poucos cruzados, mais uma taxa de 300 cruzados. Um outro levanta-se e mostra um excesso, diz que foi no DMAE reclamar e pediram para ele pagar uma taxa de 160 cruzados, para fazer a vistoria no encanamento. Eu ainda lhe falei que teve sorte, porque ele poderia ter incorrido naquela do hidrômetro, um cidadão vai no DMAE reclamar do hidrômetro, o DMAE vai lá e se acha que está tudo correto, ele debita na conta do cidadão toda a despesa, hoje deve estar em torno de 5 mil cruzados uma vistoria.

Então, Sr. Presidente, efetivamente está na hora de haver um basta nisso aí. O Prefeito Alceu Collares tem acenado, nos debates que eu tenho ido, com uma tal de conta-consumo com que, a princípio, eu concordei, mas estou achando que é outro anzol com a minhoca dourada para nós. Mas acho que desta vez a Casa não vai cair tão facilmente, como caiu da outra vez. Creio que, agora, os Vereadores vão analisar com a maior profundidade possível a mudança na fórmula de água. De minha parte, depois de exaustivos estudos, elaborei um Projeto que vai ser votado na semana que vem, porque senão vai para as calendas gregas o Projeto. Existem certos mecanismos nesta Casa, que não entendo, têm uns que se votam ligeiro, outros que não se consegue. A propósito, eu tenho um Projeto que trata de proteger os jornais nanicos nas bancas de Jornais contra os grandes monopólios da imprensa brasileira, faz um ano e meio que tramita na Casa. Agora, eu requeri o artigo 44, porque não dá mais. Então, em relação ao meu Projeto, que muda a taxa d’água, também requeri o artigo 44, porque é um projeto feito com imensos estudos, feito pelo pessoal que trabalha comigo e com muito trabalho, que, inclusive, preserva as finanças do DMAE. Não é um projeto demagógico que diz que a taxa mínima passa para tanto e é isso aí. Não, ao contrário, se utiliza uma curva potencial, porém com um expoente menor, até 60m, a partir daí, até 500m se utiliza outro tipo de cálculo. E, acima de 500m³ por mês de consumo, Sr. Presidente, se aplica um coeficiente maior do que o que o DMAE cobra hoje. Porque nenhum cidadão, na Cidade, consome 500m³ por mês. Exatamente para que o DMAE possa, aí, receber os recursos que ele venha a perder com a tirada deste pessoal do sufoco que estão, que é o pobre. E para aquele miserável – e sou obrigado a usar esta expressão – que consome até 10m³ d’água por mês, porque uma família normal consome mais do que isso, o Projeto diz que se aplique a tarifa social que hoje está em torno de Cz$ 100,00, trazendo, então, um benefício real para este miserável que mora numa maloquinha, que só tem uma bica d’água. Mas não prejudica aqueles que consomem 20, 25, 30m³, que é uma família normal. Esse dado é da Organização Mundial de Saúde. Um cidadão precisa, por dia, no mínimo 150 litros d’água. Numa família de 5 pessoas dá 21m³ e meio por mês, o que se justifica a taxa mínima de 20.

Faço estes esclarecimentos, Sr. Presidente, até porque, se os Vereadores erraram quando aprovaram aquele Projeto do Prefeito, saberão reconhecer o seu erro e não deve servir, como disse lá, para que também venham a cair de pau em cima dos Vereadores, porque, afinal de contas, aqui, todos agem com o intuito de melhor servir. Queria cumprimentar, então, a Associação Comunitária da Restinga pela reunião e eles se comprometeram de fazer um abaixo-assinado e fazer descer, segundo eles, toda a Restinga para a Prefeitura para mudar esta tarifa d’água, porque, assim como está, não dá mais para suportar, o pobre, naturalmente, porque o rico pode e, na verdade, tem sido beneficiado pela Administração Municipal. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar declaro encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 16h10min.)

 

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